23 setembro, 2017

'Celebrar a Revolução Russa é lutar contra o neoimperialismo'

'Celebrar a Revolução Russa é lutar contra o neoimperialismo', diz Domenico Losurdo

Filósofo italiano defendeu hoje (30), em São Paulo, que os Estados Unidos continuam sendo a principal potência bélica do mundo, sustentando grande interesse em novas colonizações
por Sarah Fernandes, da RBA publicado 30/03/2017 18h20, última modificação 30/03/2017 18h26
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Losurdo
"A luta pela paz é ao mesmo tempo uma luta de classes”, disse Losurdo
São Paulo – O filósofo italiano Domenico Losurdo defendeu hoje (30) em São Paulo que para celebrar os 100 anos da Revolução Russa, em 2017, é necessário encampar a luta internacional contra o neoimperialismo, classificada pelo intelectual como uma das facetas da luta de classes, já que subjuga povos e nações. O autor defendeu que os Estados Unidos continuam sendo a principal potência bélica do mundo, com ainda muito interesse em expandir o neocolonialismo.
“A revolução de outubro deu início também à revolução anticolonialista, que hoje está ameaçada. Acredito que levantar a bandeira da revolução de outubro significa, entre outras coisas, combater as guerras neocolonialistas que foram desencadeadas no Ocidente, sobretudo pelos Estados Unidos. Significa também lutar pela paz, com a clareza de que essa luta não será eficaz senão combatemos o imperialismo de hoje. A luta pela paz é ao mesmo tempo uma luta de classes”, disse.
Losurdo defendeu que a vitória do Ocidente na Guerra Fria abriu as portas para uma nova onda de colonialismo. Tanto que a maioria das guerras travadas pelos Estados Unidos após a derrocada da União Soviética foi contra países que se insurgiram contra projetos imperialistas, como no Afeganistão (2001) e no Iraque (2003).
“A lição de 1917 é que para lutar contra uma nova guerra, que é cada vez mais possível, deve-se levar em conta o papel dos Estados Unidos que é protagonista no novo colonialismo. Ainda hoje os EUA criticam seus aliados que não aceleram suas políticas de armamento”, disse o filósofo, que participou de seminário sobre os 100 anos da Revolução Russa e os 95 anos do PCdoB.
O cientista político Luís Fernandes, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), concordou e lembrou que a Revolução Russa foi a mobilização social que de fato expandiu a luta por direitos sociais em todo o mundo. “Nós valorizamos muito a trajetória do PT, mas a luta dos trabalhadores no Brasil não começou no final da década de 1980”, disse, muito aplaudido. “Já existia vida política no país. A própria CLT, que hoje está ameaçada, foi uma conquista dos trabalhistas e dos comunistas.”
“Foi um profundo processo de redistribuição de renda, que alterou as bases sociais, também no Ocidente. O avanço do socialismo, visto como uma ameaça, criou uma onda política que permitiu a criação do estado de bem-estar social na Europa, como uma compensação por meio de direitos sociais aos trabalhadores”, disse.
Durante o evento, Losurdo lançou dois livros em português: Esquerda Ausente e Guerra e revolução: o mundo um século após Outubro de 1917, editados pela Boitempo Editorial. Outros cinco títulos serão lançados: Governo Lula e Dilma: o ciclo golpeado, organizado por Renato Rabelo e Adalberto Monteiro;Anos que vivemos em perigo – a crise brasileira, de Walter Sorrentino; Os comunistas na Constituinte de 1946, de José Carlos Ruy; Pequena história de um século da grande Revolução de Outubro, de Bernardo Joffily; e 100 anos da Revolução Russa, legado e lições, organizado pela Fundação Maurício Grabois.

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