URGENTE
A NATO prepara uma vasta operação de intoxicação
Por Thierry Meyssan
Tradução João Carlos Graça
Os estados membros na NATO e do CCG preparam um golpe de
Estado e um genocídio sectário na Síria. Caso pretendam opor-se a estes crimes,
ajam quanto antes; façam circular estes artigo na Net e alertem os vossos
conhecidos.
Dentro de poucos dias, talvez a partir de sexta-feira 15 de
Junho ao meio dia, os sírios que pretenderem ver as cadeias de televisão
nacionais terão estas substituídas nos écrans por televisões criadas pela CIA.
Imagens realizadas em estúdio mostrarão cadáveres imputados ao governo, manifestações
populares, ministros e generais apresentarão a sua demissão, o presidente
el-Assad tratando de fugir, os rebeldes reunindo-se no coração das grandes
cidades e um novo governo instalando-se no palácio presidencial. Esta operação,
diretamente monitorizada a partir de Washington por Ben Rhodes, conselheiro
adjunto da segurança nacional dos Estados Unidos, visa desmoralizar os sírios e
preparar um golpe de Estado. A NATO, que esbarrou no duplo veto da Rússia e da
China, conseguiria assim conquistar a Síria sem ter de a atacar ilegalmente.
Qualquer que seja o julgamento sobre os atuais acontecimentos na Síria, um
golpe de Estado poria fim a toda a esperança de democratização.
De maneira absolutamente formal, a Liga Árabe pediu aos
operadores de satélite Arabsat e Nilesat para cortarem a transmissão dos media
sírios, públicos e privados (Syria TV, Al-Ekbariya, Ad-Dounia, Cham TV, etc.).
Existe um precedente, dado que a Liga Árabe tinha já procedido à censura de
televisão líbia de forma a impedir os dirigentes da Jamahiriya de comunicarem
com o seu povo. Não existe rede hertziana na Síria, onde as televisões são
exclusivamente captadas por satélite. Mas este corte não deixaria os écrans
apagados. De facto, esta decisão é apenas a parte emersa do iceberg. Segundo
informações de que dispomos, diversas reuniões internacionais foram levadas a
cabo na semana passada para coordenar a operação de intoxicação. As duas
primeiras, de natureza técnica, tiveram lugar em Doha (Qatar), a terceira,
política ocorreu em Riade (Arábia Saudita).
Uma primeira reunião juntou os oficiais de guerra
psicológica “embedded” em certas cadeias de satélite, entre as quais
Al-Arabiya, Al-Jazeera, BBC, CNN, Fox, France 24, Future TV, MTV. Sabe-se que
desde 1998 os oficiais da United States Army’s Psychological Operations Unit
(PSYOP) foram incorporados na redação da CNN; a partir daí, esta prática foi
estendida pela NATO a outras estações estratégicas. Redigiram antecipadamente
falsas informações, segundo um “storytelling” elaborado pela equipa de Ben
Rhodes na Casa Branca. Um procedimento de validação recíproca foi posto em
marcha, cada media devendo citar os outros de forma a contribuir para torná-los
credíveis aos ouvidos dos telespectadores. Os participantes decidiram
igualmente requisitar não apenas as cadeias da CIA para a Síria e o Líbano
(Barada, Future TV, MTV, Orient News, Syria Chaab, Syria Alghad), mas também
outras quarenta cadeias religiosas wahhabitas, as quais apelarão ao massacre
confessional aos gritos de “Os cristãos para Beirute, os alauitas para o
túmulo!”
A segunda reunião juntou engenheiros e realizadores, visando
planear a fabricação de imagens de ficção, misturando uma parte em estúdio a
céu aberto e uma parte de imagens de síntese. Os estúdios foram arranjados
durante as últimas semanas na Arábia Saudita, de modo a reconstituir aos dois
palácios presidenciais sírios e os principais lugares de Damasco, Alepo e Homs.
Já havia estúdios deste tipo em Doha, mas eram insuficientes.
A terceira reunião agrupou o general James B. Smith,
embaixador do EUA, um representante do Reino Unido e o príncipe Bandar Bin
Sultan (a quem o presidente George Bush pai designou como seu filho adotivo, ao
ponto de a imprensa norte-americana o ter designado como “Bandar Bush”).
Tratava-se de coordenar a ação dos media e a do “Exército Sírio Livre”, do qual
os mercenários do príncipe Bandar formam o grosso dos efetivos.
A operação, em gestação desde há meses, foi precipitada pelo
conselho de segurança nacional dos EUA, depois de o presidente Putin ter
notificado a Casa Branca de que a Rússia se oporia pela força a toda a
intervenção militar ilegal da NATO na Síria.
Essa operação compreende dois vetores simultâneos: por uma
lado, diversificar as falsas contrainformações; por outro lado, censurar toda e
qualquer a possibilidade de lhes responder.
A interdição das TVs por satélite como forma de conduzir uma
guerra não é uma novidade. De facto, sob pressão de Israel, os EUA e a União
Europeia impuseram sucessivas interdições a cadeias libanesas, palestinianas,
iraquianas e líbias. Nenhuma censura foi imposta a cadeias de satélite
provenientes de outras partes do mundo.
Tão-pouco a difusão de notícias falsas constitui uma
estreia. Entretanto, quatro novos passos significativos foram dados na arte da
propaganda durante o decurso das últimas décadas:
- Em 1994 uma estação de música Pop, a “Radio Libre des
Mille Collines” (RTML) deu o sinal para o genocídio no Ruanda apelando a “Matar
as baratas!”.
- Em 2001 a NATO utilizou os media para impor uma
interpretação dos atentados de 11 de Setembro e justificar os ataques ao
Afeganistão e ao Iraque. Nesta altura, já Ben Rhodes tinha sido encarregue pela
administração Bush de redigir o relatório da Comissão Kean/Hamilton sobre os
atentados.
- Em 2002 a CIA utilizou cinco cadeias, Televen,
Globovision, Meridiano, ValeTV et CMT, para fazer crer que manifestações
monstruosas tinham forçado o presidente eleito da Venezuela, Hugo Chávez, a
demitir-se, dado que tinha sido vítima de um golpe de Estado.
- Em 2011, aquando a batalha de Trípoli, a NATO fez realizar
em estúdio e difundir pela Al-Jazeera e pela Al-Arabiya imagens de rebeldes
líbios entrando na praça central da capital enquanto eles realmente ainda se
encontravam longe da cidade, de forma que os habitantes, persuadidos de que a
guerra estava perdida, cessaram toda a resistência.
Doravante, os media já não se contentam em apoiar a guerra,
eles praticam-na diretamente. Este dispositivo viola os princípios básicos do
direito internacional, a começar pelo artigo 19 de Declaração Universal dos
Direitos do Homem relativo ao facto de “receber e difundir, sem consideração de
fronteiras, as informações e as ideias por qualquer meio de informação”.
Sobretudo, ele viola também as resoluções da Assembleia Geral da ONU, adotadas no
final da Segunda Guerra Mundial, para evitar as guerras. As resoluções 110, 381
e 819 interdizem “os obstáculos à livre troca de informações e de ideias” (no
caso vertente, o corte das cadeias sírias) e “a propaganda de natureza a
provocar ou encorajar toda a ameaça à paz, rotura da paz ou outro ato de
agressão”.
No direito, a propaganda da guerra é um crime contra a paz,
o mais grave dos crimes, dado que ele torna possíveis os crimes de guerra e os
genocídios.
10 de Junho de 2012